domingo, 30 de abril de 2017

28 de abril 2017 dia histórico



28 de abril 2017 dia histórico
Por * José Carlos Miranda





Neste dia frio e nublado, 28 de abril de 2017, após 28 anos, Greve Geral no Brasil. Militante socialista revolucionário e participante nos piquetes das Greves Gerais de 1983, 1986 e 1989 (o dia de lutas contra a privatização de FHC em 1996 não foi convocada como Greve Geral) neste combate em dois séculos diferentes, não poderia de registrar esse momento. A cem anos da primeira Greve Geral no Brasil e no centenário da Revolução Russa.



Novamente, dirigentes sindicais e militantes de movimentos sociais, operários, metroviários, professores, servidores federais e jovens se reunindo na madrugada para fazer os piquetes. Nós agrupamos na Água Branca em frente a unidade Saint Gobain (uma das maiores multinacionais de origem francesa no segmento de fabricação de vidro) e praticamente não haviam operários entrando na fábrica. Eram cerca de 50 militantes, avaliamos conjuntamente e fomos para a unidade da Alstom, (multinacional francesa atolada com propinas com o Governo do PSDB no estado de São Paulo no caso chamado de "trensalão").
 

Ao amanhecer chegamos na fábrica na Vila Anastácio a cerca de 1 km da Marginal Tietê, nos juntamos aos metalúrgicos e ferroviários que ali estavam e ficamos no piquete até cerca de oito e meia. Foi um piquete emocionante. O carro de som era dos metalúrgicos (filiados a Força Sindical) e foi democrático, todos os sindicatos e militantes que ali estavam utilizaram o som e falaram livremente. Pelo que vi, havia sindicalistas e ativistas da CUT, Força Sindical, CTB, CONLUTAS, UGT, PSOL, PSTU, PCdoB, do Juntos, Esquerda Marxista e alguns movimentos sociais. Éramos mais de 100 companheiros e companheiras.



O piquete foi eficiente, ninguém entrou, gritamos palavra de ordem, cantamos e penso que ninguém imaginaria aquela cena até aquele dia. O companheiro dos metalúrgicos puxando FORA TEMER, FORA CONGRESSO NACIONAL e elogiando todos que ali estavam e todos fizeram o uso da palavra democraticamente. Até que chegaram seis viaturas da PM com policiais armados até os dentes com escopetas, metralhadores. Ninguém se intimidou. Eles foram chamados pelos gerentes que queriam entrar e o piquete impediu, iniciou-se uma negociação, o clima ficou tenso e demorou uns 20 minutos e acabamos deixando eles passarem estavam de carro. Vale ressaltar que aquele portão também é entrada do pátio de manutenção da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).



Após uma conversa com todas correntes e sindicatos (Metalúrgicos, Vidreiros, Apeoesp, Metroviários, Servidores Federais e Ferroviários) que ali estavam, unanimemente decidimos sair em passeata e tentar parar a Marginal Tietê. Neste momento alguns companheiros e companheiras do PSTU saíram e disseram que um comitê de luta estava fazendo panfletagem na Freguesia do Ó e que iriam travar a Ponte da Freguesia que passa sobre o rio Tietê e a Marginal. Combinamos todos de ir em passeata e encontrar os dois movimentos na Marginal, diga-se de passagem, é a via de maior movimento da cidade. Como neste momento éramos cerca de 50 ativistas entramos na Marginal e tomamos somente uma faixa com o acompanhamento da PM. A correlação de forças não ajudava muito a tomar uma decisão diferente.



Durante esse percurso de cerca de um quilometro na Marginal, vale destacar que estava com um movimento muito abaixo do normal para aquele horário (quem é de São Paulo sabe que o trânsito ali é sempre travado normalmente), muitos motoristas se manifestavam, a maioria a favor do movimento. Ainda ficamos parados no meio do trajeto para dar tempo de nos encontrarmos com o comitê. Ficamos ali parados cerca de 20 minutos, até que avistamos na Ponte do Piqueri, a passeata do comitê era formada por cerca de 50 pessoas. Com eles vieram também mais PMs. 

 Neste momento combinamos de encontrar com eles e ocupar toda a Marginal. Dito e feito! Ocupamos todas as pistas por uns 10 minutos, mas novamente a correlação e decisão correta naquele momento era de não fazer o enfrentamento, na nossa opinião o melhor era preservar para organizar a presença no Ato final do dia no Largo da Batata.



Ocupamos duas pistas e caminhamos uns 200 metros e entramos em uma travessa da avenida onde encerramos o ato com todos que quisessem intervindo no carro de som.

Fomos almoçar, descansar um pouco. A tarde fomos para o Largo da Batata. Que estava lindo, dezenas de milhares mesmo com a falta de transporte pela greve, foram 70 mil segundo a Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo. A cara do protesto mostrava a novidade: a entrada da classe trabalhadora na cena política. Não fomos na caminhada até a casa do Temer, estávamos muito cansados, desde as 4 horas da madrugada na ativa e ter participado ativamente das quatro greves gerais, desde 1983 tem seus reflexos (desculpem o modo lúdico de esconder a idade).



Durante todo este histórico dia conversando com militantes, trabalhadores, nos piquetes, passeatas e observando atentamente, só posso chegar a uma conclusão: vitória. E a sensação de todos e todas é que é possível fazer mais e melhor. Que é possível da resistência ir para o ataque, que é possível derrotar Temer e o corrupto Congresso. Que é possível derrubar as reformas e que é possível abrir o caminho para mudanças verdadeiras e profundas.



E as notícias que chegavam de todo o Brasil era de paralização, foram mais 35 milhões de trabalhadores em greve, foi a maior Greve Geral da história. Os batalhões pesados da classe entraram em cena.



A polarização cada vez maior da luta de classes a nível mundial avança no Brasil e o clima de onda conservadora propagado por aí começa a se tornar no seu contrário. Confiança na classe operária, na classe trabalhadora e na juventude, combater na linha da Frente Única mantendo a independência política frente aos capitalistas, seus partidos e o estado burguês aliado a luta pela auto-organização podem avançar nossa luta pela abolição da ordem existente.

* José Carlos Miranda é da Coordenação Nacional do M-LPS e veterano militante socialista e revolucionário do movimento operário brasileiro e internacional





  

  

  

       

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